Ao passar por um prisma, um feixe de luz branca transparece todas as suas vertentes de cores. E se pudéssemos sentir cada uma delas? E se pudéssemos, a partir das cores, evidenciar as vertentes que estão dentro de nós? Assim é o projeto Prisma de Mim Mesmo, desenvolvido pelo artista Lux Ferreira, que também é músico e parceiro de produção da cantora Mahmundi. A cada mês, o artista realiza uma imersão temporal em uma cor, a partir de diversas experiências. As percepções dessas experiências geram uma obra final, lançada sempre no mês posterior.
O projeto parte do conceito do prisma óptico, onde a luz branca, ao passar por um prisma, sofre o fenômeno da difração e expõe as cores do espectro — vermelho, laranja, amarelo, verde, anil e violeta — que estão dentro de si. Para Lux, o estudo de cada uma dessas cores poderá revelar uma nova perspectiva de nós mesmos, expondo emoções e sentimentos que muitas vezes estão escondidos em nosso interior.
Inicialmente, o artista utilizou cálculos físicos para chegar ao tom de cada cor, porém, percebeu que, além de estudar as frequências, comprimento das ondas luminosas e sua relação com as ondas sonoras, também deveria levar em conta as interpretações dos sentimentos que cada cor desperta. Surge então o lado mais poético e abstrato do projeto, possibilitando o desenvolvimento de versos, timbres, entonação e nuances em suas obras.
Em VERMELHO, o resultado dos estudos deu origem a uma música com predominância em ré maior. Isaac Newton (1704) e Alexander Wallace Rimington (1893), no que diz respeito à conversão das cores em notas musicais, chegaram em uma conclusão similar da mesma cor em seus estudos, o que revela a solidez do conceito.
O processo de criação da obra que inicia o projeto se deu a partir de uma perda dolorosa. Para se reencontrar com sua essência e superar a dor, Lux mergulhou nas experiências sobre a cor em dezembro de 2017. Em uma delas, em um quarto escuro e apenas com a luz vermelha emitida pela tela de um computador, o músico foi registrando as percepções geradas. Foi possível perceber que o vermelho despertava a agressividade, mas também o desejo, a guerra, mas também a vontade de continuar.
Já em LARANJA — resultado das experiências com a cor vividas em janeiro — o clima é de alegria e contemplação. A sociabilidade que a cor representa fez com que o artista saísse das experiências internas e estivesse mais em contato com o outro. Para esta faixa, foram captados os sons das crianças brincando na praia, do mar, dos vendedores ambulantes, das conversas animadas, gerando uma canção praiana e cheia de felicidade.
Além disso, para entender o outro, fazia-se necessário uma obra em conjunto. A experiência proposta foi que, em um ambiente silencioso, o artista estivesse em contato com outro durante trinta minutos, apenas um olhando o outro. Sem palavras ou interferências, apenas o olhar e o sentir. O resultado foi uma avalanche de sentimentos, que os deixou em estado de contemplação. Assim surgiu a segunda parte da canção: logo após a excitação de um dia de praia, vem a calmaria da contemplação de um pôr do sol laranja.
Segundo o artista, o público também terá suas próprias percepções ao ouvir cada faixa e este é o objetivo: mostrar uma correlação entre os sentidos de modo que as pessoas sintam o mundo de uma maneira diferente. “O intuito principal do projeto é a experiência de transformação que é gerada e que pode ser refletida nas pessoas. Fazer com que elas sintam. Sentir é muito importante, porque os sentimentos colaboram com quem somos, além de despertar em nós lados que talvez nem saibamos que existam”, explica o artista.